terça-feira, 4 de junho de 2013

Catarse da experiência cinematográfica pura


     Retornando ao tema do meu post anterior,  me chamou a atenção um texto do Mestre Mario Quintana, que aborda praticamente o mesmo tema. Ainda mais se nos utilizarmos do inevitável paralelo que se faz entre a linguagem cinematográfica e a literatura.
Esse texto, é bom que se dê os devidos créditos (coisa que anda tão desacreditada nas postagens na rede...),  foi publicado no livro “ A vaca e o hipogrifo”, da Editora Globo.
O texto:
Clareiras
Se um autor faz você voltar atrás na leitura, seja de um período ou de uma simples frase, não o julgue profundo demais, não fique complexado: o inferior é ele.
A atual crise de expressão, que tanto vem alarmando a velha guarda que morre mas não se entrega, não deve ser propriamente de expressão, mas de pensamento. Como é que pode escrever certo quem não sabe ao certo o que procura dizer?
Em meio à intrincada selva selvaggia da nossa literatura encontram-se as vezes, no entanto, repousantes clareiras. E clareira pertence à mesma família etimológica de clareza... Que o leitor me desculpe umas considerações tão óbvias. É que eu desejava agradecer, o quanto antes, o alerta repouso que me proporcionaram três livros que li na última semana: Rio 1900, de Brito Broca, Fronteira de Moysés Vellinho, e Alguns estudos, de Carlo Dante de Moraes.
Porque, ao ler alguém que consegue expressar-se com toda a limpidez, nem sentimos que estamos lendo um livro: é como se o estivéssemos pensando.
E, como também estive a folhear o livro do velho Pascall, na edição Globo, encontrei providencialmente em meu apoio estas palavras, à pág.23 dos Pensamentos:
“Quando deparamos com o estilo natural, ficamos pasmados e encantados, como se esperássemos ver um autor e encontrássemos um homem.”
    Imagine o sr. Leitor querer complementar qualquer coisa após as palavras do mestre Quintana. Mas correndo esse risco, proponho esse paralelo, do diretor que não nos permite a catarse da experiência cinematográfica pura, cuja mão pesada nos segura pela gola da camisa a exclamar: fui eu que fiz. É a minha obra. Admire-a aí de fora!
     E lembro de minha amiga, a filosofa Lala De Henzelein, que a principal preocupação de qualquer realizador, seja no teatro, cinema, música, literatura, ou o que mais seja, deve ser sempre resumida numa palavra: generosidade. Para com o texto, com os personagens e, principalmente, com o leitor/expectador/ouvinte. Generosidade em deixar todas as portas escancaradas para que ele possa entrar na obra.

     Fazer isso com a arte e o talento capaz de nos encantar é o que define o gênio. Como Kubrick, Altman, Hitchcock, Spielberg...


Légis Schwartsburd é formado em cinema pela FAAP-SP e tem especialização em direção de atores pela Escola Internacional de Cinema e Televisão, em San Antonio de los Baños-Cuba. É diretor de cena e professor de produção publicitária em Cine-Tv.

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